Professor brasileiro é finalista do ‘Nobel da Educação’

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Capixaba é um dos 10 finalistas do Global Teacher Prize por ação em comunidade vítima do desastre de Mariana

Por Danilo Moreira

A criatividade e inovação de um professor capixaba lhe rendeu um grande reconhecimento mundial. O docente Wemerson da Silva Nogueira é um dos 10 finalistas do Global Teacher Prize pelo projeto “Filtrando as lágrimas do Rio Doce”. A ação abordou os impactos na água do rio após o rompimento da barragem de Mariana (MG). O projeto possibilitou que os alunos desenvolvessem um equipamento para filtrar a água contaminada e beneficiar uma das comunidades afetadas. Considerado o “Nobel da Educação”, o prêmio é oferecido pela Fundação Varkey, organização internacional sediada em Londres (Inglaterra), que atua na área educacional e é patrocinada pelo vice-presidente dos Emirados Árabes, o Sheikh Mohammed bin Rashid Al Maktoum. A iniciativa busca reconhecer ações transformadoras de educadores nas escolas e comunidades. O brasileiro foi selecionado entre 20 mil candidatos de 179 países. O resultado final será divulgado no dia 19 de março em Dubai e o vencedor receberá 1 milhão de dólares.

Filho de agricultores, Wemerson tem 26 anos e é formado em Química. Leciona na Escola Estadual Antônio dos Santos Neves, na periferia de Boa Esperança, município ao noroeste do Espirito Santo. Para despertar a curiosidade dos alunos da oitava série, Nogueira escolheu abordar sobre um assunto com bastante repercussão na época: o rompimento da Barragem de Fundão, em Mariana (MG) e o impacto da tragédia no Rio Doce.

Como forma de contribuir para as comunidades afetadas, o docente reuniu os alunos e realizou estudos dos impactos socioambientais. A equipe coletou dados e amostras da água contaminada, além de realizar entrevistas com moradores. De posse dos resultados, Nogueira aplicou o estudo da tabela periódica e desenvolveu uma metodologia que facilitou a aprendizado do conteúdo pelos alunos.

As pesquisas foram realizadas por meio de uma parceria com a Universidade Federal do Espirito Santo (UFES). O trabalho contou com o apoio de empresas de tratamento de água, que forneceram instruções para que os estudantes pudessem entender o funcionamento das análises de laboratório, que duraram, neste caso, 40 dias. Para concluir o ciclo, os alunos desenvolveram um filtro à base de areia. O aparelho realiza um processo de oxidação que retira da água grande quantidade de ferro e manganês concentrados após o rompimento da barragem. A purificação torna a água apta para ser utilizada em atividades domésticas. Os estudantes distribuíram 200 unidades do aparelho para a população de Regência (ES), uma das comunidades prejudicadas pela contaminação.

Wemerson Nogueira

Em entrevista ao jornal Folha Vitória, o professor destacou a importância de aproveitar um assunto atual e que impactava diretamente o Estado do Espirito Santo para melhorar a aprendizagem dos estudantes sobre a tabela periódica. “Foi uma oportunidade de preparar meus alunos para pesquisas científicas. Realizamos um planejamento que foi da aula de campo até a coleta da água do Rio Doce e da lama”, explica.

A iniciativa rendeu a Wemerson o prêmio Educador do ano 2016, que forneceu um vale-presente de R$ 15 mil, uma assinatura da revista “Nova Escola Digital” e mais R$ 5 mil ao vencedor. Agora, o docente está na final do concurso Global Teacher Prize, grande referência na área da Educação no Mundo. Em entrevista à Época, o professor afirma se sentir honrado por ficar entre os dez finalistas. “O reconhecimento me enche de orgulho por saber que escolhi a profissão certa: de um transformador de vidas”, comenta.

Água limpa em Tracajá

Outro brasileiro que pode se orgulhar pela indicação ao Global Teacher Prize é o amazonense Valter Pereira de Menezes – o primeiro do seu Estado a participar do prêmio como um dos 50 finalistas. Filho de pai pescador e mãe agricultora, o professor de 46 anos é formado em Ciências e especializado em Metodologia do Ensino da Biologia. Leciona há mais de duas décadas na Escola Municipal Luiz Gonzaga, que fica na comunidade ribeirinha Santo Antônio do Tracajá, zona rural de Parintins (AM). Localizado a 329 quilômetros da capital Manaus, o local possui cerca de 70 famílias que não tinham acesso a rede de esgoto e água potável.

O reconhecimento de Menezes foi motivado pelo projeto “Água limpa para os curumins do Tracajá” realizado com alunos do nono ano na escola municipal. A ideia surgiu em 2013, quando o professor participava da semana do meio ambiente no colégio onde leciona. Durante o evento, um aluno perguntou sobre o motivo do aumento dos casos de diarreia na região durante as cheias dos rios. Após explicar que as motivações ocorrem da falta de saneamento básico e esgoto, o docente teve a ideia de colaborar de alguma forma para mudar esta situação e, desta forma, mostrar aos estudantes um exemplo de cidadania e consciência ambiental.

O problema é que a água que abastecia a região vinha de um poço artesanal não encanado. Como o local não possuía esgoto, a cada cheia dos rios, os dejetos humanos iam parar nos lençóis freáticos e contaminavam a água do abastecimento, fator que gerava doenças na população.

Valter Menezes

Menezes procurou as ONGs Asas de Socorro e Tearfund e firmou uma parceria para a instalação de 180 filtros de areia bioativos nas casas ribeirinhas sem encanamento para esgoto. A comunidade de Santo Antônio do Tracajá recebeu a instalação 20 fossas, equipadas com um revestimento que isola os detritos humanos do lençol freático para filtrar a água. Em outra etapa, preocupado com as cheias dos rios e o impacto nas fossas, Menezes reuniu os alunos e, juntos, plantaram diversas bananeiras próximas a essas instalações. Desta forma, as plantas se alimentam da água das fossas e executam o papel de catalisadoras ambientais.

O projeto bem sucedido colocou Menezes entre os 50 finalistas do Global Teacher Prize. Segundo o jornal A Crítica, o educador afirmou que não recebeu apoio na divulgação do prêmio por parte do Governo do Estado. “A educação da zona rural também é de qualidade. Se eu fosse da capital com certeza estaria ‘bombando’. Queria poder divulgar a nossa conquista para todo o Amazonas. É algo histórico”, comentou. Mas ele colheu mais conquistas com sua iniciativa. Em 2015, o professor foi um dos dez vencedores do Educador Nota 10, da Fundação Victor Civita. O prêmio reconhece os melhores educadores na Educação Infantil e Ensino Fundamental do país. Os ganhadores receberam um prêmio de 15 mil reais cada e uma assinatura anual do site Nova Escola Clube.

O primeiro brasileiro a ser indicado ao Global Teacher Prize é o mestre em Engenharia e professor da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) Márcio Andrade Batista, que esteve entre os 50 finalistas na edição 2016. O docente realizou um projeto com o baru, castanha típica da região, que foi transformada em farinha para servir de complemento alimentar. A professora de origem palestina Hanan Al Horub foi a premiada da edição daquele ano.

Agora é torcer por Wemerson e aguardar a divulgação do vencedor no dia 19 de março, em Dubai. Em um país com tantos problemas na Educação e principalmente na valorização dos professores, esses dois exemplos de reconhecimento de educadores da rede pública e que fazem a diferença são motivos de muito orgulho para todos. O concurso também dá espaço para que o sentimento patriótico seja fortalecido entre os brasileiros quando o assunto é inovação. É para se orgulhar mesmo!

Com informações de: Global Teacher Prize, Folha Vitória, Sputnik, Hypeness
Fotos: Divulgação/O Globo; Divugalção/Golden Teacher Prize