Conheça 16 livros sobre racismo

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Obras abordam sobre importância de discutir, identificar e combater a discriminação racial, além de outras questões sobre a população negra

Por Danilo Moreira

Recentemente, o assassinato do norte-americano George Floyd por um policial branco gerou bastante repercussão na Imprensa mundial e incendiou manifestações antirracistas em vários países. Nas mídias sociais, celebridades e anônimos passaram a postar apoio aos movimentos antirracistas com hashtags como #BlackLivesMatter (vidas negras importam, em português, frase que simboliza o movimento internacional).

O fato é que o momento é um sinal emblemático sobre a importância da conscientização e combate à discriminação racial na sociedade. No Brasil, ainda que o racismo seja crime desde 1989, não é raro encontrar mais e mais episódios gravíssimos de desrespeito e violência contra essa população (como o caso do menino carioca João Pedro) que indicam o quanto é essencial e urgente abordar sobre esse assunto.

Uma das ferramentas fundamentais para combater o racismo é o conhecimento, e a leitura é uma importante aliada nessa luta. Pensando nisso, a Gênio Criador Editora selecionou algumas obras abordam sobre o preconceito racial e a condição da população preta na sociedade.

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NÃO-FICÇÃO

1. Mulheres, Raça e Classe, de Angela Davis

Um dos livros que são referência mundial sobre o feminismo negro e a luta antirracista é de autoria da professora e filósofa norte-americana Angela Davis, ícone do ativismo negro e feminista mundial. Na obra, a especialista apresenta um farto panorama histórico e crítico sobre as nuanças das opressões e a interseccionalidade de gênero, raça e classe. A acadêmica também aborda sobre como o racismo influenciou a história dos Estados Unidos e movimentos sociais importantes nos séculos 19 e 20, além de tratar sobre questões contemporâneas relacionadas. Lançado originalmente nos EUA em 1981, no Brasil, a edição mais comercializada atualmente é a publicada pela Boitempo Editorial.

2. Pequeno Manual Antirracista, de Djamila Ribeiro

Quando o assunto é feminismo negro no Brasil, a filósofa, escritora e acadêmica brasileira Djamila Ribeiro é um dos nomes mais consagrados. Neste livro, a especialista explica de forma didática como brancos reproduzem atitudes racistas no cotidiano e estão imersos em uma cultura construída em cima do preconceito racial, além de explicar os conceitos de branquitude, negritude, violência racial, dentre outros elementos importantes que aprofundam a reflexão. Dessa forma, a autora dá 11 dicas sobre como ter uma postura antirracista por meio de pequenas atitudes. O livro foi publicado em 2019 pela Companhia das Letras e, especialmente neste momento que a luta antirracista está mais em evidência na mídia, já é apontado como uma das obras sobre o assunto mais vendidas atualmente.

3. Quem Tem Medo do Feminismo Negro?, de Djamila Ribeiro

Outra obra de bastante relevância escrita pela filósofa Djamila Ribeiro é um ensaio autobiográfico e um compilado de artigos escritos por ela para o blog da revista Carta Capital, publicados entre 2014 e 2017. A autora aborda sobre a importância do empoderamento feminino, o feminismo negro e a discriminação racial, mencionando também suas memórias pessoais. A acadêmica também comenta sobre fatos recentes atrelados ao preconceito de raça como o aumento da intolerância às religiões de matriz africana e ataques a personalidades negras, como a repórter da TV Globo Maria Júlia (Maju) Coutinho. O livro foi publicado em 2018 pela Companhia das Letras.

4. Como Ser Antirracista, de Ibram X. Kendi

Neste livro, o premiado historiador norte-americano Ibram X. Kendi destaca como o preconceito racial está atrelado a diversas questões como classe, gênero e geografia, provocando consequências tóxicas tanto para a sociedade quanto em cada indivíduo. Trazendo contextualizações ricas em valores e demonstrando diversos tipos de conhecimento, Kendi chama a atenção para a necessidade de sermos antirracistas, atuando não só para combater a discriminação de raça, mas agindo para construir uma sociedade mais justa e igualitária. Lançado nos EUA em 2020, no Brasil, a publicação é comercializada pela Editora Alta Cult.

5. Racismo Linguístico: Os Subterrâneos da Linguagem e do Racismo, de Gabriel Nascimento

Lançado em 2019 pela Editora Letramento, o livro foca em identificar a presença dos preconceitos raciais na linguagem e no estudo da língua portuguesa ao longo da História do Brasil. O professor baiano Gabriel Nascimento, especializado em Linguística, chama a atenção para a importância desse debate dentro da área, incrementando com contribuições de intelectuais negros como o filósofo de ascendência francesa e africana Frantz Fanon. Além de trazer uma visão mais inclusiva sobre a língua portuguesa na sociedade brasileira, o acadêmico provoca uma reflexão importante sobre como o idioma e a academia precisam se reformular e combater o racismo.

6. O Genocídio do Negro Brasileiro: Processo de um Racismo Mascarado, de Abdias Nascimento

Durante décadas, prevaleceu no Brasil a falsa visão de que o País era uma democracia racial, na qual o grande problema da população negra era a pobreza e não o preconceito de cor. O professor e ativista e poeta Abdias do Nascimento aborda nessa obra que, na verdade, o negro está inserido em um processo de racismo mascarado, vítima de uma política que se esforça para conduzi-lo à marginalização, à pobreza e a um genocídio cotidiano. De acordo com um estudo publicado em 2019 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Brasil, um jovem negro tem quase três vezes mais chances de ser assassinado do que um branco. Publicado pela primeira vez em 1978, o livro ganhou uma reedição em 2016 pela Editora Perspectiva.

7. Executivos Negros: Racismo e Diversidade no Mundo Empresarial, de Pedro Jaime

Fruto de uma tese de Doutorado, o professor Pedro Jaime aborda sobre o racismo e a inclusão do negro e a diversidade no contexto empresarial, analisando as trajetórias profissionais de duas gerações de executivos negros paulistanos. Por meio desse estudo, ele avalia a mobilidade social desse grupo e as mudanças na construção desses tipos de percursos entre 1970 e o começo do século XXI, além e trazer dados numéricos que fornecem um panorama sobre esse cenário. Lançado pela Edusp em 2016, a obra recebeu o Prêmio Jabuti em 2017 na categoria “Economia, Administração, Negócios, Turismo, Hotelaria e Lazer”.

8. Nem Preto Nem Branco, Muito Pelo Contrário, de Lilia Moritz Schwarcz

Já parou para pensar como existem brasileiros que dizem conhecer alguém racista, mas ninguém se considera um? Lilia Schwarcz, uma das mais renomadas pesquisadoras brasileiras sobre racismo e literatura negra, aborda nesse ensaio como o racismo está presente na história brasileira por meio das relações sociais desde o período colonial, além de mencionar modelos como as teorias deterministas no final do século XIX, as políticas de branqueamento da população no início século XX ou as ideias de mestiçagem dos anos 1930. Além disso, a autora também coloca em evidência as sutilezas perversas do racismo que ainda persistem no cotidiano, presentes de diversas formas. A obra foi publicada pela Editora Claroenigma em 2013.

FICÇÃO/BIOGRAFIAS

9. Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada, de Carolina Maria de Jesus

De origem humilde, a catadora de papel Carolina Maria de Jesus (1914-1977) era moradora da favela do Canindé, em São Paulo, entre os anos 1950 e 1960. Seu cotidiano desafiador era retratado em seus diários – cuja escrita revelava um talento nato. Ao visitar a comunidade, o jornalista Audálio Dantas conheceu Carolina e achou interessante os seus relatos. Em 1960, com o apoio do jornalista, Carolina reuniu seus escritos e os lançou em livro, sendo sucesso no Brasil e no Exterior. A publicação traz o realismo e um olhar sensível de Carolina sobre os anos que morou no local, onde criou seus três filhos. A obra também traz um retrato relevante sobre a desigualdade social e a situação da população negra nas comunidades brasileiras. Até hoje, Carolina Maria de Jesus é considerada uma das escritoras negras mais importantes e pioneiras do País. A versão mais recente em comercialização foi lançada pela Editora Ática em 2019.

10. Um Defeito de Cor, de Ana Maria Gonçalves

Nesse romance histórico, uma idosa de origem africana, cega e com pouco tempo de vida decide viajar para o Brasil em busca do filho que perdeu há décadas. Durante a travessia, ela vai contando sobre a sua trajetória, marcada por tragédias como violência, estupro, mortes e opressão. Durante o livro, a autora insere diversos fatos históricos da época, no século XIX, atreladas à condição da população negra no País. O livro é uma recriação ficcional da história real de Luiza Mahin, mãe do poeta e ativista Luiz Gama, e que participou da Revolta dos Malês, na Bahia, em 1835. A obra foi publicada em 2006 pela Editora Record.

11. Olhos D’água, de Conceição Evaristo

Uma das escritoras negras mais conhecidas na literatura brasileira contemporânea é a premiada Conceição Evaristo. Nesta obra, composta por 15 contos, a autora aborda sobre a pobreza e violência urbana que acometem a população afro-brasileira, especialmente a feminina. As histórias mostram a trajetória de mulheres negras, que lidam com suas realidades e desafios, bem como seus dilemas sobre o amor, sexualidade, a ancestralidade negra, o preconceito racial, entre outras questões recorrentes, com um tom realista e direto. O livro foi publicado em 2014 pela Editora Pallas.

12. Na Minha Pele, de Lázaro Ramos

Famoso ator brasileiro, Lázaro Ramos decidiu lançar esse livro com sinceras reflexões. Ainda que a publicação não seja considerada autobiográfica, o autor compartilha episódios da sua vida para promover reflexões acerca do gênero, empoderamento, família, afetividade e discriminação, além de expor também suas dúvidas e descobertas. Na obra, Ramos chama a atenção para a importância do diálogo, da empatia e do seu desejo de viver num mundo em que a pluralidade cultural, racial, étnica e social seja regra, não exceção. O livro foi lançado em 2017 pela Editora Objetiva.

13. A Cor Púrpura, de Alice Walker

Lançado originalmente em 1982, o livro conta a dura trajetória de Celie, mulher pobre e analfabeta do sul dos Estados Unidos, que foi abusada desde criança pelo padrasto e posteriormente pelo marido. A obra aborda sobre as relações de amor, ódio, poder, e desigualdades de gêneros, etnias e classes sociais. No Brasil, a versão publicada em 2009 pela Editora José Olympio costuma ser a mais disponível nas livrarias atualmente. É um dos romances mais aclamados, vencedor do prêmio Pulitzer de 1983. A trama também virou filme, lançado em 1985, com roteiro da própria autora e direção de Steven Spielberg, tendo Whoopi Goldberg na pele da protagonista. Em 2005, tornou-se musical na Broadway, produzido por Oprah Winfrey e Quincy Jones, e chegou a ser encenado no Brasil em 2019, com direção de Tadeu Aguiar.

14. O Correspondente Estrangeiro, de Lino de Albergaria

Por meio do Clube de Jovens Correspondentes do Mundo, Mori começa a se corresponder por carta com Konare, um garoto da Guiné-Bissau. De início, fica decepcionado com a origem do seu novo amigo, já que para os seus melhores amigos foram selecionados meninos da Europa e Estados Unidos. Com o tempo, Mori desenvolve uma amizade intensa com Konare e repleta de aprendizados, na qual ele começa a perceber as desigualdades e outras consequências dos preconceitos enraizados na sociedade. O livro do escritor brasileiro Lino de Albergaria foi publicado em 1988 pela Editora do Brasil.

15. O Olho Mais Azul, de Toni Morrison

Romance de estreia da renomada escritora norte-americana Toni Morrison, primeira mulher negra a ganhar o Nobel de Literatura. Na história, Pecola Breedlove vem de uma família pobre, e por ser negra, sofre rejeição nos ambientes que frequenta. Após conflitos com a família, a menina vai morar temporariamente na casa dos MacTeer. Claudia MacTeer, que tem a mesma idade de Pecola, narra a sua trajetória. Na época da história, os Estados Unidos dos anos 1940, o padrão de beleza é branco, diferente dos traços físicos da protagonista. Com um inconsciente desejo de ascensão social, a menina sonha em ter olhos azuis. Segundo a autora, o livro visa mostrar o que o preconceito racial pode causar em uma simples criança. Lançado originalmente em 1970, a versão brasileira mais recente encontradas nas livrarias é de 2019, publicada pela Companhia das Letras.

16. Homem Invisível, de Ralph Ellison

Clássico da literatura norte-americana, um jovem deixa para trás o sul dos Estados Unidos e parte para o Harlem, bairro da cidade de Nova York na qual ele ouviu falar que homens negros como ele são glorificados. Lá, ele acaba tendo contato com um mundo diferente do que imaginava. O protagonista, que não tem nome, é ignorado por brancos racistas e negros “radicais”, que enxergam o cenário, mas não veem o homem, fazendo-o tornar-se invisível. O livro foi publicado em 1953 e a expressão “homem invisível” chegou a tornar-se metáfora da situação do negro na sociedade norte-americana. No Brasil, a edição publicada pela Editora José Olympio em 2013 é a mais facilmente encontrada.

Esperamos que essas dicas de livros contribuam para compreender e refletir sobre a situação da população negra nas sociedades, além de entender como a luta de movimentos antirracistas é tão importante e necessária. Todos nós temos o compromisso de combater o racismo e de lutar por uma sociedade mais justa e igual para todos, reparando injustiças históricas.

Ler, sem dúvida, é um importante passo para começarmos a transformar concepções, comportamentos e fazermos a diferença. Boa leitura!

Com informações de: Geledés, Revista GalileuTag Livros, Metrópoles