Gênio Criador Editora

Conheça 12 livros sobre a escravidão no Brasil

Obras abordam sobre as características, complexidades, a resistência negra e consequências da escravidão no País

Por Danilo Moreira

No dia 13 de maio costuma ser relembrada a abolição da escravatura, oficializada no Brasil em 1888 por meio da Lei Áurea, assinada pela Princesa Isabel. No período, é comum que instituições, especialmente as relacionadas à luta do povo negro promovam reflexões sobre as consequências desse triste período.

O Brasil foi um dos últimos países a abolirem oficialmente a escravidão, contudo, até hoje, a população negra ainda sente os efeitos desse regime. Além disso, não raro, até hoje a mídia ainda noticia casos de trabalhos análogos à escravidão em diversos locais do País.

Para auxiliar no conhecimento referente ao assunto, a Gênio Criador Editora reuniu algumas indicações de obras acadêmicas que abordam o assunto relatando sobre as características e consequências do escravismo no País. Veja mais a seguir:

1. Liberdade por um fio: história dos quilombos no Brasil, de João José Reis e Flávio Gomes (orgs.)

Publicado pela Companhia das Letras em 1996, o livro reúne estudos de importantes historiadores, que traçam um mapa da luta pela liberdade e resistência à escravidão por meio dos quilombos brasileiros. A obra aborda a formação desses locais em diferentes épocas e regiões do País, como nos Estados da Bahia, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás e Bahia. São analisados detalhes como os conflitos, as características econômicas próprias (e em boa parte, prósperas), o envolvimento com outros movimentos políticos e setores sociais, além de outros elementos que viabilizaram essas comunidades. As pesquisas oferecem um rico panorama da complexidade que marca a construção e expansão dessas organizações.

2. A nova abolição, de Petrônio Domingues

O pesquisador Petrônio Domingues contextualiza o negro no panorama histórico brasileiro como um cidadão ativo. O autor faz análises de diversos períodos e momentos históricos diferentes, como a formação da imprensa negra e sua repercussão no jornalismo brasileiro no final do século XIX e começo do século XX, passando pelo protagonismo negro da Revolução Constitucionalista de 1932, até a questão das cotas universitárias, entre outras ações protagonizadas pela população negra. Domingues utiliza uma abordagem diferenciada, que busca comprovar o valor político do negro e sua posição de destaque merecida na história do País. O livro foi publicado em 2008 por meio da editora Selo Negro.

3. O trato dos viventes – Formação do Brasil no Atlântico Sul, séculos XVI e XVII, de Luiz Felipe de Alencastro

Nesse livro, o historiador Luiz Felipe de Alencastro faz uma análise documental que relaciona à escravidão no Brasil Colonial às histórias de algumas regiões do continente africano (especialmente Angola, que também foi colônia portuguesa), dos quais muitos escravos eram originários. Focando no tráfico transatlântico, que alcançou seu auge entre os séculos XVI e XVII, o autor mostra como essas duas regiões, separadas pelo Oceano Atlântico, são unidas por meio de um sistema de exploração colonial portuguesa que marcou a formação do Brasil. A pesquisa mostra que para entender o período escravocrata no País, é necessário examinar as relações estabelecidas para além da então colônia portuguesa, trazendo importantes contribuições para os estudos sobre a escravidão no País. O livro foi publicado em 2000 pela Companhia das Letras.

4. Políticas da raça — Experiências e legados da abolição e da pós-emancipação no Brasil, de Flávio Gomes e Petrônio Domingues (orgs.)

Coletânea também publicada pela editora Selo Negro, reúne artigos de pesquisadores brasileiros e estrangeiros. A ideia é fazer um panorama da escravidão, os primeiros movimentos abolicionistas na segunda metade do século XIX, o processo da abolição da escravatura, os legados, desafios e outros elementos que permeiam a questão negra até os dias atuais. A obra também aborda a migração de libertos por São Paulo e Rio de Janeiro, os linchamentos raciais no Oeste Paulista, os conflitos entre imigrantes e ex-escravizados pela posse de terras e moradias, a participação negra no movimento republicano, além das representações culturais na música, nas artes e na religião, o movimento Frente Negra Brasileira (FNB) nos anos 1930, indo até 2010, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) julgou constitucionais as cotas raciais na Universidade de Brasília (UnB).

5. A abolição, de Emília Viotti da Costa

Com uma linguagem clara e acessível, a historiadora Emília Viotti da Costa apresenta o complexo cenário político, econômico, social e ideológico que resultou na assinatura da Lei Áurea, que estabelecia a abolição da escravatura no País em 1888. O livro aborda o motivo pelo qual o regime escravocrata passou a ser repudiado no País, após séculos de hegemonia, desmistificando a imagem da abolição como uma mera doação nobre da Princesa Isabel, quando na verdade foi para atender à exigência de um sistema de produção. Publicado originalmente em 1987, a obra recebeu nova roupagem e foi relançado pela Editora Unesp em 2008.

6. Fragmentos setecentistas: escravidão, cultura e poder na América Portuguesa, de Silvia Lara

O livro é resultado de anos de estudo da pesquisadora Silvia Hunold Lara em documentos históricos de arquivos do Rio de Janeiro, da Bahia e de Lisboa, em Portugal. A autora imerge na vida cotidiana do período, com foco nas cidades do Rio de Janeiro e Salvador, e analisa a complexidade das relações existentes especialmente entre a elite e os africanos libertos, que por muitas vezes eram vistos como “ameaças” principalmente pelas autoridades coloniais. A obra também aborda sobre como as relações sociais dos escravos e dos livres recebeu significações no período e como esses movimentos foram representativos na formação da cultura e das vivências raciais no Brasil.

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7. Em costas negras: uma história do tráfico de escravos entre a África e o Rio de Janeiro (séculos XVIII e XIX), de Manolo Florentino

O historiador Manolo Florentino debruçou-se sobre diversos documentos como listagem de navios negreiros, inventários post-mortem e registros imobiliários para abordar em sua obra o tráfico de populações africanas escravizadas no Rio de Janeiro entre as décadas de 1970 e 1830. A figura do traficante carioca tem destaque, sendo retratado, de modo geral, como dono de grande fortuna e integrante da elite, tendo relações com Portugal e a África, especialmente os portos de Goa e Macau, então colônias portuguesas. O estudo, publicado em livro pela Companhia das Letras em 1997, foi vencedor do Prêmio Arquivo Nacional de Pesquisa em 1993, promovido pelo Governo Federal.

8. Na senzala, uma flor – Esperanças e recordações na formação da família escrava, de Robert Slenes

Por meio de minuciosas análises demográficas, o livro do pesquisador Robert Wayne Slenes analisa a formação de famílias de escravos na Região Sudeste oitocentista, período que o local desponta na produção cafeeira e esse desenvolvimento econômico faz com que a escravidão ganhe incrementos no local. O autor apresenta dados para comprovar um fato que durante muito tempo foi negado pela historiografia brasileira: a existência de famílias escravas nas senzalas brasileiras. Slenes também aborda sobre a construção dos laços de afeto e solidariedade entre esses familiares, fruto das tradições centro-africanas que também influenciaram na luta de classe no Sudeste. A obra foi publicada pela Editora da Unicamp, tendo sua segunda versão lançada em 2011.

9. Abolicionistas brasileiros e ingleses, de Antonio Penalves Rocha

Um dos abolicionistas mais conhecidos do País foi o escritor e diplomata recifense Joaquim Nabuco (1849-1910). Nessa obra, o pesquisador Antonio Penalves Rocha aborda sobre Nabuco por meio de outra ótica menos conhecida. A narrativa foca sobre o fato de como ele e a British and Foreign Anti-Slavery Society (Sociedade Britânica e Estrangeira contra a Escravidão, em português) promoveram-se mutuamente, além de fazer reflexões das ações abolicionistas do diplomata e seu trabalho juntamente a essa instituição inglesa para, na época, promover a sua imagem como líder do movimento abolicionista brasileiro.

10. Casa Grande & Senzala, de Gilberto Freyre

Uma das obras sobre escravidão no País mais emblemáticas foi publicada pelo sociólogo Gilberto Freyre em 1933. A publicação foi considerada uma novidade no País pela sua abordagem e metodologias diferenciadas. O livro aborda o Brasil Colonial e aspectos da vida familiar, dos costumes públicos e privados, das mentalidades e relações étnicas, além da analisar a arquitetura da casa-grande e sua representatividade elitista, bem como a senzala e outros elementos que compunham a sociedade brasileira na época e foram importantes para a formação cultural do País. Até hoje, a obra gera debates entre acadêmicos. Seus defensores acreditam que a obra possibilitou um retrato importante do Brasil, enquanto seus críticos afirmam que ela cita a miscigenação como um processo democrático, suprimindo os conflitos inter-raciais no País.

11. Biografia de Mahommah Baquaqua, de Lucciani Furtado (org.)

Aqui temos um raro registro biográfico de um africano que foi escravizado no Brasil no século XIX. Mahommah Gardo Baquaqua nasceu em uma família muçulmana no reino de Bergoo, na área atualmente conhecida como Benin, país da África Ocidental. Baquaqua foi traficado para o Brasil na década de 1840, passando a trabalhar em uma embarcação comercial, de onde escapou em 1847. Foi para os Estados Unidos e em Nova York conseguiu ser liberto por abolicionistas, morando no Haiti sob os cuidados de um casal de missionários batistas. Voltou aos EUA em 1849 e posteriormente mudou-se para o Canadá. Lá, conheceu o editor Samuel Moore, que, interessado em sua história, publicou An Interesting Narrative. Biography of Mahommah G. Baquaqua em 1854. Na obra, Baquaqua faz reflexões e conta sobre sua trajetória de vida, inclusive os anos que esteve no Brasil como escravo. Apesar de a obra ser centenária, somente em 2017 foi publicada em português, por meio da Editora Uirapuru.

12. Pisando fora da própria sombra, de Ricardo Rezende Figueira

Com enfoque diverso das dicas de livros que analisaram o período escravocrata, bem como os movimentos de resistência e suas consequências que você conferiu até agora, o livro de Ricardo Figueira pega uma ferida recente e nos leva a conhecer mais sobre uma triste realidade: a escravidão ainda existente no País. Há mais de 20 anos, o sociólogo Ricardo Rezende Figueira atua em áreas que registram casos de trabalho escravo no Pará e Mato Grosso. O livro reúne sua experiência, além de mostrar imagens e contar com um encarte do fotógrafo João Roberto Ripper, um dos maiores especialistas em imagens humanas.

Esses são alguns livros recomendados sobre o período escravocrata no Brasil, que podem contribuir com a discussão do assunto e auxiliar quem está pesquisando sobre o tema. A escravidão é um período que precisa ser estudado não só para compreendermos as raízes, os problemas sociais, os legados e características da nossa sociedade brasileira, mas também para entendermos os desafios de como o País pode reparar essa dívida histórica com as populações escravizadas.

Com informações de: Nexo, G1 e Folha de S. Paulo
Fotos: Arquivo Nacional/Flickr

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