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10 livros sobre a população LGBTQIAP+ no Brasil

Obras reúnem históricos de repressões sofridas no decorrer de séculos, além da formação de movimentos de resistência e direitos conquistados

Por Danilo Moreira


Desde 1990, a Organização Mundial da Saúde (OMS) deixou de considerar a homossexualidade como doença. Ainda assim, o Brasil segue como um dos países que mais matam LGBTs no mundo. Segundo o levantamento do Grupo Gay da Bahia (GGB), o país registrou 291 mortes violentas de pessoas LGBT+ ou movidas por LGBTfobia em 2024, aumento de 13,4% em relação a 2023.

Uma das formas de combater esse triste cenário é com a informação. Pensando nisso, a Gênio Criador Editora reuniu 10 livros que ajudam a compreender o desenvolvimento e resistência de movimentos LGBTQIAP+ no Brasil.

São obras que abordam desde a repressão nos tempos coloniais pela Igreja e o Estado, da ditadura militar, até os caminhos atuais das políticas públicas e embates com movimentos conservadores, passando por temas como cidadania trans, cobertura da imprensa, direitos garantidos e momentos históricos decisivos.

Os livros são indicados para estudantes, professores, ativistas e qualquer pessoa interessada em entender os caminhos e desafios da diversidade sexual e de gênero. Entender essa trajetória é essencial para refletir sobre o presente e construir um futuro mais justo, inclusivo e com respeito.

Veja a seguir:

1. Devassos no Paraíso: a homossexualidade no brasil, da colônia à atualidade, de João Silvério Trevisan

Com uma escrita envolvente, o pesquisador, um ícone do movimento no país, percorre séculos de repressão, estigmatização e também de resistência de pessoas LGBT no país, desde os primeiros séculos do período colonial, com a Inquisição da Igreja, até os tempos contemporâneos, com a ascensão do conservadorismo e a extrema-direita.

O autor traça um panorama das representações homoafetivas na cultura, na política, na religião e nas instituições sociais. O livro também destaca o impacto da AIDS e do moralismo sobre a vida dos homossexuais nas décadas de 1980 e 1990.

Além do farto conteúdo histórico, “Devassos no paraíso” traz reflexões sobre identidade, desejo, marginalidade e pertencimento. Trevisan se debruça sobre figuras icônicas e movimentos culturais, articulando memórias pessoais com análises sociais.

Lançado na primeira metade dos anos 1980, foi um dos primeiros livros a tratar sobre tema com profundidade histórica e científica no Brasil. Atualmente, a edição que costuma ser mais encontrada nas livrarias é a quarta, revista e atualizada, que foi lançada em 2018 pela Objetiva.

2. História do Movimento LGBT no Brasil, de James N. Green, Marcio Caetano, Marisa Fernandes e Renan Quinalha

Esta obra coletiva apresenta uma visão ampla e articulada da formação do movimento no país, com foco em diferentes regiões do país e contextos históricos. Os autores — renomados pesquisadores e ativistas — reconstroem os principais marcos, organizações e eventos que moldaram a luta por direitos e visibilidade.

A narrativa destaca os primeiros grupos organizados ainda nos anos 1970, como o Somos — Grupo de Afirmação Homossexual, e mostra como o movimento se diversificou ao longo das décadas, incorporando bandeiras de lésbicas, pessoas trans e outras identidades dissidentes.

O livro também aponta os desafios de articulação com outras pautas sociais, como feminismo, antirracismo e direitos humanos. Além disso, examina o papel da mídia, das artes, dos espaços de sociabilidade e da repressão estatal na conformação das identidades LGBT no Brasil.

O livro foi publicado pela Editora Alameda em 2018.

3. Movimento LGBTI+: uma breve história do século XIX aos nossos dias, de Renan Quinalha

O livro traz uma conjuntura acessível e didática sobre a trajetória do movimento LGBTI+ no Brasil e no mundo. O pesquisador começa no século XIX, com os primeiros registros médicos e jurídicos sobre a homossexualidade, e avança até os debates atuais, envolvendo direitos, reconhecimento e políticas públicas.

Um dos grandes méritos da obra é articular eventos históricos com a emergência das identidades e bandeiras políticas que hoje compõem a sigla LGBTIQIAP+. Quinalha apresenta conceitos-chave, como heteronormatividade, cisgeneridade, visibilidade trans e interseccionalidade, de maneira clara e conectada ao contexto brasileiro.

O livro também aborda a influência de movimentos internacionais, e analisa como esses encontros impulsionaram a organização de coletivos e redes no Brasil. A obra mostra ainda como o movimento foi moldado pelas tensões entre autonomia e institucionalização.

A obra foi lançada em 2022 pela Editora Autêntica.

4. Além do Carnaval: a homossexualidade masculina no brasil do século 20, de James N. Green

Green é uma figura história mundial do movimento. Norte-americano, viveu anos no Brasil e produziu conteúdos acadêmicos sobre o tema. No livro, o pesquisador aborda a vivência homossexual masculina nas grandes cidades brasileiras ao longo do século 20, especialmente no Rio de Janeiro e São Paulo, tendo o Carnaval como um dos temas centrais.

Green investiga como a festividade, embora celebrasse figuras como o malandro e o travesti, também reforçava estereótipos que marginalizavam os gays fora do contexto da folia. O autor também mostra como bares, cinemas e festas se tornaram espaços importantes para a formação de redes afetivas e sexuais, desafiando os limites impostos pela moral conservadora e pela perseguição policial.

A obra combina pesquisa histórica com entrevistas e análise de arquivos pessoais, buscando compreender como os homens gays construíram suas identidades e sociabilidades em um contexto marcado pela repressão, inclusive da área científica.

A obra foi lançada em 2000, mas, atualmente, é possível encontrar a terceira edição, lançada pela Editora Unesp, em 2022.

5. Stonewall 40 + o que no Brasil?, de Leandro Colling (org.)

O livro parte da comemoração dos 40 anos da Rebelião de Stonewall, em Nova York, para refletir sobre os desdobramentos da luta LGBTQIAP+ no Brasil. A obra reúne discussões de mesas redondas e os artigos apresentados por autores em evento de mesmo nome, em 2020.

Stonewall era o nome de uma famosa boate frequentada pelo público LGBT novaiorquino. Em 1969, policiais invadiram o local e agrediram os frequentadores com tamanha violência, que desencadeou uma revolta generalizada. Tal fato se tornou o ponto histórico inicial moderno dos movimentos LGBTQIAP+ no mundo.

Os artigos problematizam a importação de símbolos e datas do ativismo norte-americano, questionando quais seriam os “Stonewalls” brasileiros. O livro destaca os contextos locais e as lutas específicas travadas pelos militantes brasileiros, apontando a necessidade de valorizar os marcos nacionais da resistência.

A edição publicada em 2011 pela Editora Edufba costuma ser a mais encontrada.

Jornal Lampião da EsquinaLampião da Esquina (1978 - 1981), primeiro jornal feito por e para LGBT+, em plena ditadura militar

6. Cidadania trans: o acesso à cidadania por travestis e transexuais no Brasil, de Caio Benevides Pedra

O livro traz um olhar aprofundado sobre os desafios enfrentados por travestis e transexuais na conquista de direitos básicos no Brasil. Pedra analisa o conceito de cidadania sob a perspectiva trans, e aborda o as barreiras estruturais e institucionais que impactam essa população.

A obra parte de uma perspectiva interseccional para discutir como gênero, raça, classe e territorialidade moldam as trajetórias das pessoas trans no acesso à educação, saúde, trabalho e segurança. O autor mostra como as políticas públicas ainda são insuficientes ou mal implementadas, e muitas vezes reforçam estigmas ao invés de combatê-los.

Outro destaque do livro é a análise das conquistas legais mais recentes, como o direito ao nome social e à retificação de documentos. No entanto, o autor ressalta que essas mudanças, embora importantes, ainda não garantem cidadania plena para pessoas trans.

A obra foi publicada em 2020 pela Appris Editora.

7. Imprensa gay no Brasil: entre a militância e o consumo, de Flávia Péret

A pesquisa analisa a trajetória da imprensa voltada para o público LGBT no Brasil, com foco especial nas décadas de 1970 a 1990. A autora investiga como jornais e revistas produzidos por e para a comunidade gay contribuíram para a construção de identidades, mobilização política e circulação de informação.

A obra destaca a importância de veículos como o Lampião da Esquina, primeiro jornal gay de circulação nacional e outras publicações independentes, que rompeu o silêncio midiático sobre a homossexualidade. Ao mesmo tempo, Péret aponta as tensões entre o ativismo e o consumo, revelando como a mídia gay também passou por processos de mercantilização.

O livro evidencia o papel desses meios na criação de redes de solidariedade, articulação política e afirmação de subjetividades, mesmo sob censura e repressão. A autora também discute a transição para a internet e a fragmentação do público leitor.

A edição que costuma ser mais encontrada nas livrarias é a publicada em 2012 pela Publifolha.

8. Políticas públicas LGBT e construção democrática no brasil, de Cleyton Feitosa

O autor analisa nesse livro a relação entre o avanço dos direitos LGBT e o processo de consolidação democrática no Brasil, examinando, especialmente, o caso do Centro de Referência LGBT de Pernambuco e seus membros. A obra examina como as políticas públicas voltadas para essa população foram formuladas, implementadas e enfrentaram resistências no Estado brasileiro.

O livro descreve os planos de enfrentamento à homofobia, os centros de referência e outras ações promovidas especialmente a partir dos anos 2000. Também discute os limites dessas políticas diante da ascensão de discursos conservadores e da fragilidade das instituições democráticas.

Um dos pontos fortes do livro é mostrar como os movimentos sociais foram protagonistas na formulação de políticas, tensionando o poder público e ocupando espaços institucionais.

A obra foi publicada em 2017 pela Editora Appris.

9. Direitos LGBTI+ no Brasil: novos rumos da proteção jurídica, de Renan Quinalha, Emerson Ramos e Alexandre Melo Franco Bahia (orgs.)

Esta coletânea reúne especialistas em direito, direitos humanos e ativismo para discutir os avanços e os desafios da proteção jurídica à população LGBTI+ no Brasil. A obra mapeia as principais decisões do judiciário, marcos legais e lacunas legislativas que afetam diretamente a cidadania e a dignidade dessa população.

Entre os temas abordados estão o casamento homoafetivo, a adoção por casais do mesmo sexo, a criminalização da LGBTfobia, o direito à identidade de gênero, e o papel do Supremo Tribunal Federal na consolidação de garantias constitucionais. O livro também trata de políticas públicas e do papel dos poderes Legislativo e Executivo na efetivação (ou negação) desses direitos.

Além da abordagem jurídica, os autores ampliam o debate ao considerar fatores sociais e políticos que moldam a aplicação (ou não) das leis no dia a dia. Há um alerta claro sobre os retrocessos enfrentados nos últimos anos e os riscos que ameaçam as conquistas obtidas.

A obra foi lançada em 2024 pelas Edições Sesc.

10. Existe índio gay? A colonização das sexualidades indígenas no Brasil, de Estevão Rafael Fernandes

O autor propõe uma discussão sobre a intersecção entre sexualidade, gênero e colonização no contexto dos povos indígenas brasileiros. A pergunta provocativa do título — Existe Índio Gay? — abre caminho para questionar como a lógica colonial impôs categorias e normatividades sexuais alheias às culturas originárias.

O autor mostra como a colonização destruiu ou silenciou práticas de sexualidade e identidade de gênero que não se encaixavam no modelo ocidental cisheteronormativo. Ao mesmo tempo, analisa como a negação da existência de indígenas LGBTI+ reforça tanto o racismo quanto a LGBTfobia, apagando histórias, corpos e resistências.

A obra também se debruça sobre as atuais articulações de indígenas LGBTI+ que reivindicam visibilidade dentro e fora dos territórios, criando novas formas de militância e reexistência. O livro rompe com a ideia de que sexualidade é uma pauta alheia às lutas indígenas, revelando sua centralidade na luta por autodeterminação.

A edição que mais costuma ser encontrada é a publicada em 2019 pela Editora APGIQ.

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Com informações de: G1, Guia do Estudante, CNN Brasil, Diadorim

Fotos: (1) Pexels/Marta Branco, (2) Memórias da Ditadura

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